30.11.07

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!...

Sem Remédio - Florbela Espanca - do Livro de Mágoas (como quase tudo dela que coloco aqui)


A solidão me mata
Aperta o peito
Afiada como faca
Sufocante como nada

Receio perder a juventude
Sem sorrir, sem viver
Esperando que isso mude
Sonhando com o que não pude

Me afogando em rotina
Para não pensar
A angústia dói
Sinto o tempo passar

20.11.07

LÁGRIMAS OCULTAS

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida ...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago ...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim ...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

PS: Eu estava postando outra e, qdo fui verificar, já tinha sido postada antes

12.11.07

Ando pela cidade
Solidão a me rondar
Sinto falta de um amigo
Alguém pra rir, alguém pra chorar

Amizades são flores raras
Plantas estas que não sei cultivar
Não sei como ajo e, quando reparo,
As pétalas já estão a murchar

Será que se importam
Como eu me importo?
Será que sentem saudade
Como eu sinto?

Quase sem perceber
Relações eu corto
Mas meu carinho é sincero
Mesmo distante, não minto

8.11.07

O peito aperta
O ar passa com dificuldade
*suspiro*
É duro encarar a verdade

Há algo incompleto
Meu mundo não gira
A vida cansa
Talvez o que sinto é mentira

Entre realizações e frustrações
Não controlo minhas ações
Não compreendo minhas emoções
Não conquisto minhas paixões

O que faço não é natural
Há uma nuvem negra no meu encalço
Não sei quando é real
Não sei quando é falso