18.12.08

Alguns passos para o vício

Toda manhã é a mesma rotina. Durante o dia, eu preciso de mais, mas tenho que evitar. É como uma droga, a quantidade vai sempre aumentando. O que eu usava anos atrás já não me satisfaz. Minha mãe me incentiva, diz que ainda uso pouco. Vejo pessoas em estados mais graves na rua. Desfiguradas, acordam de manhã e não se reconhecem ao olhar no espelho. Antes de dormir, percebo como a sujeira transparece nos meus olhos. Mas o melhor jeito de disfarçar usando mais e mais.
É fácil encontrar em qualquer farmácia ou loja de departamento. Alguns lugares chiques também comercializam. Revistas ensinam como usar.
Apesar de aceito completamente pela sociedade, em especial as mulheres, não há como negar: maquiagem é como um vício. Um mundo onde o pó que todos consomem é compacto e tem que combinar com a sua pele (ou não, causando um efeito ainda mais devastador).
Eu ainda era jovem quando resolvi testar um kit da minha mãe nos meus olhos. Segui instruções que havia lido e me senti poderosa em instantes. Mas a quantidade era muito grande para alguém da minha idade usar socialmente. Não estava acostumada, os conhecidos poderiam estranhar e comentar. Então comecei com um simples lápis marrom comprado na farmácia. As vezes, quando lembrava, um rímel transparente. Aí que começa o problema, quando você usa sempre e se acostuma. A dose diária passa a ser nada, não tem mais aquele efeito.
Um dia, perdi esse lápis marrom. Infelizmente, só encontrei um preto em casa para substituir. Como eu já devia ter previsto, não consegui voltar a usar o marrom depois de re-encontrá-lo. Era tarde demais. Hoje perco alguns minutos todas as manhãs riscando meu olho por todos os lados com o lápis mais preto que posso encontrar. Procuro em todas as lojas, converso com outras viciadas (e também viciados, por que não?) sobre qual tem o efeito mais duradouro e o preto mais preto. Pinto meus cílios já escuros com algo que é quase uma graxa sobre os olhos e dá um trabalho pra tirar.
Mas eu ainda estou numa fase leve e fico só nisso. Apesar de ter tentado, o batom não é uma droga que me atrai. Por sorte, rejeito base, pó e blush. Estes são os piores. Te tiram a aparência humana. E, cuidado, o problema tende a piorar com a idade e algumas senhoras, num momento de desespero, apelam para a maquiagem definitiva. Coitadas. Por mais que não saia no banho ou precise de um ritual matutino, vão querer sempre mais. E apelar para vícios mais graves e contra-indicados, como lifting e toxina botulinica. Mas essa já é outra história.

3.12.08

blog zen
Movimento do "slow blogging", inspirado na idéia de "slow food", prega que páginas pessoais de internet sejam convite à reflexão, em vez de noticiosas e imediatistas

SHARON OTTERMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Quando Barbara Ganley quer refletir sobre a vida, ela caminha pela paisagem rural de Vermont, volta para casa sem pressa e depois escreve em seu blog sobre o que fez e meditou. Num post recente, ela escreveu sobre as impressões geladas deixadas na neve pelos veados quando dormem. Em outro, comentou que quer ir trabalhar de bicicleta e fazer mais reciclagem.
Se seu blog, bgblogging.wordpress.com, soa tranqüilo e repleto de divagações, é porque é exatamente isso. Mas é justamente esse o objetivo. Ganley, 51, integra um movimento pequeno e singular conhecido como "slow blogging" -o blogging sem pressa.
A prática é inspirada no movimento do "slow food", segundo o qual o fast-food está destruindo tradições locais e hábitos alimentares saudáveis. Os proponentes do slow food acham que a comida deve ser local, orgânica e sazonal; os "slow bloggers" acham que blogs movidos por notícias são o equivalente aos restaurantes de fast food -ótimos para consumo ocasional, mas insuficientes para garantir o sustento humano no longo prazo.
Um Manifesto Slow Blog, escrito em 2006 por Todd Sieling, consultor de tecnologia de Vancouver, Colúmbia Britânica, apresentou os princípios do movimento: "O slow blogging é a rejeição do imediatismo", escreveu. Devido à ausência de leitores, Sieling não anda mais escrevendo em seu blog.
Mas Barbara Ganley, que deixou recentemente seu emprego de professora de redação no Middlebury College, compara o "slow blogging" à meditação. Segundo ela, o "slow blogging" é "ficar em silêncio por alguns minutos antes de escrever e jamais escrever a primeira coisa que lhe vem à cabeça".
Em seu blog, Ganley justapõe imagens e textos, tecendo reflexões sobre a paisagem local. Ela tende a incluir posts uma ou duas vezes por semana, mas às vezes passa cerca de um mês sem incluir material novo.

Radicais
Alguns "slow bloggers" gostam de testar ainda mais a atenção de seus leitores. Acadêmicos postam artigos longos sobre estilos de dar aula, enquanto especialistas em tecnologia fazem experimentos para determinar quão pequena pode ser a freqüência de seus posts antes de serem abandonados por seus leitores.
A abordagem é uma provocação dirigida a blogs grupais populares como Huffington Post, The Daily Beast, Valleywag e Boingboing, que podem difundir até 50 itens por dia. Os leitores lotam esses sites, e os anunciantes tomam nota do fato.
Entre os "slow bloggers" e os bloggers a jato, existe um meio termo enorme -centenas de milhares de pessoas que não se esforçam para atrair anúncios e repercussão, mas escrevem porque querem comunicar-se com colegas e amigos que pensam como eles.
Essas pessoas vêm sendo a base do gênero desde o princípio, mas, recentemente, sua produção vem passando por uma mudança drástica. Na prática, se não declaradamente, elas estão cada vez mais praticando o "slow blogging".
"Tenho notado uma redução marcante nos posts -estou falando dos bloggers mais visíveis, aqueles que têm cem, 200 ou mais leitores", comentou Danah Boyd, doutoranda da Universidade da Califórnia em Berkeley que estuda cultura popular e tecnologia. "Acho que as pessoas que escreviam posts longos, refletidos, continuam a fazê-lo, mas as que escreviam posts ao estilo "ei, dê uma olhada nisso" estão indo para outros fóruns."
A tecnologia é parcialmente responsável. Dois anos atrás, se uma pessoa queria compartilhar um link ou um vídeo com amigos ou lhes informar de um evento que teria lugar, ela postava a informação num blog.
Hoje é muito mais rápido digitar 140 caracteres num Twitter update (também conhecido como tweet), compartilhar imagens no Flickr ou usar o serviço de notícias do Facebook. Em comparação com isso, um programa tradicional de blogging como o WordPress pode parecer glacial.
Outra razão pela qual alguns bloggers vêm reduzindo o ritmo de suas contribuições é o puro cansaço. Siva Vaidhyanathan, professor na Universidade da Virgínia, fechou seu blog muito lido, o Sivacracy, em setembro, em parte porque estava exausto com as demandas que o acompanhavam. "Quando você tem seu próprio blog, há muita pressão imaginária para publicar constantemente, ser espirituoso, escrever bem.
Ninguém consegue conviver com isso", disse ele.
Barbara Ganley, a blogger de Vermont, tem um slogan que capta a tendência perfeitamente: "Escreva num blog para refletir; escreva tweets para se conectar". "O blogging é aquele lugar sem pressa", diz ela.

Tradução de CLARA ALLAIN - Folha de S. Paulo



Eu acho q pratico slow blogging sem saber. Não é ideologia, é falta de método. E, realmente, agora eu uso o twitter para falar "coisinhas". Gostei dos cientistas calculando qto tempo demora pras pessoas deixarem de ler o blog. rs