12.6.07

Padaria do Amor

"Até quem me vê lendo jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei..."

Eu estou melancólica, vou para a terapia, saio de lá melancólica, mesmo que não estivesse assim antes. Estamos numa segunda-feira, dia 11 de junho, e eu não abri a alma, só ouvia os problemas da vida alheia e pensava muito na minha. Mas eu devo sair de lá e ir comprar pão com minha mãe como se não houvesse amanhã. É um lugar arrumado, estabelecimento tradicional, tudo funcionando dentro dos padrões de qualidade. Mas não tem o cigarro da minha mãe. Ninguém merece ter que ficar indo atrás de lugar pra comprar cigarro, mas fazer o que?
Ladeira abaixo, mais uma padaria. Também é tradicional, lembro de que existe desde sempre, mas tem um estilo que me diz: "padaria de bebum". Poucas coisas feitas com farinha e etc, mas um balcão com algumas cadeiras onde homens bebem cerveja desde a hora que o lugar abre até quando fecha. Eu tenho aqui na minha cabeça uma lista de padarias que conheço e dou essa denominação, muitas vezes talvez injusta, mas é a impressão que me passam. Pois vamos lá comprar cigarro na padaria de bebum, o que parece muito adequado.
Conforme andamos do carro ao local, verificamos uma movimentação diferente. Bastante gente e metade da padaria decorada com bexigas vermelhas em formato de coração. Alguns homens parados na porta. Alguns casais em mesinhas lá dentro. A gente nem pode entrar pela porta certa, exclusiva para o evento. Em cada mesinha, o nome de um casal. Ana e Leo. Márcia e Pedro. Minha mãe compra o cigarro enquanto eu espicho o olho e tento entender o que acontece. Silvia e Lúcio. Júlia e André. Tem casais bem melosos em suas mesinhas, com garotas virando o rosto enquanto falam e garotos com olhar vidrado. Outros conversam normalmente, apesar da tentativa de criar um clima. Enquanto os homens sem companhia ficam lá fora, as mulheres se servem num pequeno buffet.
Não tinha mais nada escrito lá além dos nomes nas mesas. Não tinha ninguém comandando o encontro. Ficamos pensando no que seria, discutindo teorias. Eu acho que parecia uma reunião de agência de encontros, com os nomes nas mesas para os casais formados através do cruzamento de dados do computador finalmente se conhecerem. Podia ser outra coisa que não imagino. Mas em plena segunda feira, véspera do dia dos namorados, uma padaria vulgar tornou-se um lugar repleto de corações vermelhos.

Um comentário:

Anônimo disse...

você viu se o Caco Ciocler não tava por lá?